Durante toda a minha infância eu fui uma criança muito
levada. Acordava às seis da manhã e ia direto para o quintal catar mangas que o
vento derrubou durante a noite, subir nos pés de jabuticaba ou conversar
com o meu avô enquanto ele rachava lenhas para o fogão a lenha. Subia
tranquilamente em árvores gigantes deixando minha mãe, vó, tia, todas de pernas
bambas enquanto eu me divertia no pico de uma árvore para balançar as galhas e
verem as frutas despencando. Era muito
elétrico, mas tinha a bateria fraca. Seis horas da tarde eu já estava deitado
no sofá pronto pra dormir.
Um belo dia na escola eu resolvi visitar a biblioteca, se eu
não me engano eu tinha uns onze anos e resolvi escolher um livro pra levar para
casa. Acabei escolhendo o livro Menino de Engenho do José Lins do Rego. Lembro
até hoje da capa amarela e isso me enche de saudades. Estudava de manhã e então
na parte da tarde resolvi pegar o livro e ir para o quintal, sentei debaixo de
um pé de manga (o quintal de casa tinha vários) e comecei a ler. E nas primeiras
páginas eu li sobre uma criança, o Carlinhos, que viu seu pai matar sua doce,
carinhosa e gentil mãe. Naquele momento eu senti a dor daquela criança e foi
então que decidi ser amigo dele. E a partir de então eu entendi que nas páginas
daquele monte de livros da biblioteca da escola havia personagens que poderiam
ser meus amigos.
Terminei de ler o livro encantado com todas as aventuras do
Carlinhos no Engenho de seu avô, e me identificando com ele em vários momentos. Entreguei o livro
assim que eu terminei de ler e já peguei outro, ansioso para conhecer os meus
novos amigos que estavam dentro daquelas páginas. Uns três anos depois disso eu me
lembro de ter lido Hilda Furacão, e que pena eu senti daquela mulher rodeada de
homens, mas presa em uma solidão triste e amargurada.
E foi assim que eu me enfiei neste incrível mundo literário.
Depois do meu primeiro amigo Carlinhos eu já tive vários outros amigos. Já me
encontrei com pessoas que eu detestei e outras que eu quis abraçar e participar
de algum momento especial com elas. Hoje os livros são minhas melhores
companhias, sempre na mochila, na mesinha de estudo, na estante, na cômoda,
estão por todo lado, gosto dessa coisa de ter meus amigos perto o bastante.
Acredito que os livros ajudam a me tornar uma pessoa
melhor e que não é necessário ficar
horas a fio lendo páginas e mais página sem permitir que dentro de mim algo
mude pra melhor. Os livros me deixam mais humano e me fazem enxergar um mundo
onde consigo conviver com a diversidade entendendo que ela é um fato natural da
sociedade. Depois de visitar tantos mundos, conhecer tantos personagens, rir e
chorar com eles eu só posso ter a certeza de uma coisa, na companhia de um
livro eu jamais estou sozinho. Fiquem então com a música "Livros" do Caetano Veloso e obrigado por ler até aqui! E podem ter certeza que realmente "Os livros são objetos transcendentes.."
Você é "surpreendente"!
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