quinta-feira, 21 de julho de 2016

O Chamado Selvagem - Jack London

    Durante a semana parei para refletir um pouco nos personagens de séries e filmes que eu gosto muito. Pensei bastante. Meditei um pouco sobre o meu filme preferido (Na Natureza Selvagem) e em duas de minhas séries preferidas (One Tree Hill e Gilmore Girls). O que eu pude notar que todos têm em comum é um protagonista que gosta muito de ler. O Chris, o Lucas e a Rory. Existe uma lista contendo todos os livros citados pela Rory em Gilmore Girls e eu tenho salvo alguns livros citados pelo Lucas em One Tree Hill e pelo Chris no filme. Estou numa fase da vida em que quero investir muito no meu crescimento pessoal, então decidi escolher alguns livros das referidas listas que eu acho que irá me ajudar neste investimento e lê-los. O primeiro livro escolhido foi “O Chamado Selvagem”, de Jack London. Então bora lá falar sobre ele.



    O Chamado Selvagem foi escrito em 1903 por Jack London ainda jovem, com seus vinte e sete anos. No livro vamos ter como protagonista um cão domesticado chamado Buck, originado por um cruzamento de um São Bernardo e uma Pastora, que foi domesticado em uma grande casa chamada de a Casa do juiz Miller. Em um triste dia quando não tinha ninguém em casa o jardineiro da casa traiu todos vendendo Buck por causa de um vício: apostas em loterias chinesas.
    Após ser vendido, Buck passou por vários maus-tratos. Apanhou muito durante toda a viagem até chegar ao local onde passaria a trabalhar arduamente puxando trenós. Até o momento Buck “confiava nos homens e dava-lhes crédito por uma sabedoria que ultrapassava a sua” (página 7). A partir de então acompanhamos a trajetória de Buck do seu estado domesticado para o seu estado natural. Nos primeiros dias de trabalho, como é de se esperar, houve muita dificuldade para Buck se adaptar ao novo sistema, mas com pouco tempo o trabalho já era realizado por ele facilmente e com uma competência animal incrível.

“O respeito pela propriedade particular e pelos sentimentos pessoais ficava muito bem nas regiões quentes do sul, sob a lei do amor e da camaradagem, mas nas terras do norte, sob a lei do porrete e das presas, quem quer que tomasse essas coisas em consideração era um tolo, e se observasse um comportamento ético, não conseguiria sobreviver.”

    Neste novo modo de vida rodeado por vários cães ele precisava conquistar seu espaço, mas como todos os novatos ele teve suas dificuldades, pois começou os conflitos de convivência Hierarquia-Disputa-Liderança. Não demorou muito para que Buck tivesse o respeito de outros cães e o reconhecimento de seus novos donos devido à sua excelência no trabalho. Por mais que o cão adaptava-se rápido ao novo modo de vida, geralmente ele pensava na vida antiga que agora parecia distante, quase irreal e aos poucos essas lembranças iam se dissipando no avançar de sua selvageria. As lembranças das porretadas após sua venda deixava Buck um tanto cauteloso com os seres humanos e até mesmo com os outros cães.
    Buck teve diferentes donos durante esta nova experiência de vida devido a vários fatores. E em cada lugar ele descobria algo novo e ao mesmo tempo antigo dentro dele mesmo, como se essa coisa já existisse ali e ele só não tivesse percebido ainda. No avançar dos dias e das situações Buck foi percebendo que havia um chamado selvagem e algo dentro dele respondia muito bem a este chamado e ele precisava ir de encontro. O afeto pelos seres humanos não existia mais no coração de Buck, exceto por apenas uma pessoa que ele amava intensamente, mas algumas circunstâncias delicadas ditarão um futuro bem diferente do que Buck imaginava enquanto vivia na Casa do Juiz Miller. O penúltimo capítulo do livro “Por amor de um homem”, que vai falar dessa relação humana-animal é perfeito. Eu não consigo transmitir tudo o que senti lendo ele.
    A sensação que eu tinha ao ler este livro é que eu estava lendo a mim mesmo naquelas entrelinhas, como se o livro fosse uma espécie de espelho. Isso já aconteceu com alguns outros livros, com este, no entanto foi de uma forma mais forte. Eu me perguntava o tempo todo o que é necessário acontecer de fato conosco para que cheguemos ao limite e encontremos dentro de nós o homem natural, contrário à civilização, às religiões e às vãs filosofias que construímos para viver em uma sociedade confortável.

“Ele não passou a roubar por prazer, mas para atender ao clamor de seu estômago. Ele não furtava abertamente, mas subtraía secreta e ardilosamente, por respeitar a nova lei do porrete e das presas. Em resumo, as coisas que fazia eram feitas porque era mais fácil e mais proveitoso agir assim que de outra maneira.”

   Acredito que Buck jamais imaginaria ser forte como foi de fato e isso é que nos remete a pensar em nós mesmos. Onde é o nosso limite? Até onde eu posso ir para continuar vivendo sendo esta mesma pessoa? Será que é saudável viver sendo a mesma pessoa durante toda a vida sem descobrir várias coisas que existe dentro de nós? Até onde eu acho que posso suportar? Trabalho com criação de insetos em laboratórios há três anos e algo que não pude deixar de perceber neles é que para um inseto recém-chegado do campo sobreviver bem no laboratório é necessário uma série de especializações, caso contrário, devido ao ambiente diferente eles não resistem. No caso de nós, humanos, essas especializações não existem, precisamos de fato buscar forças no homem natural que existe dentro de nós se queremos sobreviver às mudanças.
   Ainda existem várias coisas que eu gostaria de abordar sobre este livro incrível, mas o texto já está ficando longo. Recomendo muito a leitura e pretendo com certeza fazer a releitura, porque eu acredito que apenas uma leitura não é suficiente para extrair desta obra maravilhosa tudo que o London quis passar. E sim, este livro acrescentou algo em mim, fiquei muito feliz com a leitura e espero que outros livros das listas mexam comigo da mesma forma que este. Obrigado por ler até aqui e até a próxima! 



“Tão peremptoriamente estes espíritos lhe acenavam que a cada dia a humanidade e as pretensões humanas se afastavam para mais longe dele. Das profundezas da floresta soava um chamado; e com a mesma frequência que o escutava, misteriosamente emocionante e sedutor, sentia-se compelido a virar as costas à fogueira e à terra batida a seu redor e projetar-se para a floresta, correndo sempre em frente, não sabia para onde nem por quê; e nem ao menos imaginava para onde ir ou por que iria, de tão imperioso que era o chamado que vinha das profundezas das florestas (...)”